Qual a situação das águas costeiras pós tragédia socioambiental?
Para a Cetesb, órgão que faz o monitoramento, do ponto de vista de saúde pública, em relação aos eventos extremos, a maior preocupação reside na condição de balneabilidade das praias.
Por Ana Patrícia Arantes
Segundo o Painel Brasileiro Sobre Mudanças Climáticas, as regiões costeiras brasileiras pelo rápido desenvolvimento urbano, amplificam seus efeitos de perdas econômicas e ambientais sobre os impactos das mudanças climáticas. No mesmo estudo, que aborda diferentes análises sobre as mudanças climáticas e áreas costeiras, o norte de São Paulo junto com outras regiões costeiras brasileiras, foi considerado como exposição alta para escorregamentos.
Diante da tragédia ocorrida em fevereiro de 2023, foi possível perceber o quanto estes impactos socioambientais podem devastar comunidades e também provocar um enorme impacto nas águas costeiras.
Neste cenário de caos, quais seriam as estratégias empregadas para o monitoramento da qualidade das águas costeiras?
A Cetesb – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo possui uma rede de monitoramento das águas costeiras no qual produz relatórios anuais , com dados colhidos semestralmente em diferentes pontos de medição no litoral de São Paulo que envolvem análises de amostras de água em três profundidades, amostras de sedimentos e com 33 variáveis analisadas nos parâmetros de qualidade.
A Companhia informa que do ponto de vista de saúde pública, em relação aos eventos extremos, a maior preocupação reside na condição de balneabilidade das praias litorâneas, que já possuem um monitoramento regular semanal. Segundo o órgão, esta frequência é adequada para essa avaliação, além de ter as respostas em até 48hs, ao contrário de outras variáveis físico-químicas e que, em relação aos demais impactos na qualidade das águas costeiras, a série histórica constituída por meio do monitoramento regular permitirá proceder a uma avaliação mais detalhada.
Na semana seguinte após a tragédia, a situação da balneabilidade das praias do trecho mais atingido em São Sebastião foram todas, preventivamente, consideradas impróprias para o banho.
Nas amostragens realizadas duas semanas após o evento, a maioria dos resultados da densidade do indicador microbiológico de poluição fecal não estavam muito altos. Por esse motivo, muitas praias foram classificadas como próprias, de acordo com a metodologia estabelecida pela Resolução do CONAMA 274/2000, cujo critério se baseia nos resultados das últimas cinco semanas. Entretanto, por precaução, a CETESB colocou em NOTA na Internet, junto com o Boletim de balneabilidade, que em eventos extremos ocorre o carreamento de grande quantidade de lama e de esgoto doméstico para as praias por meio dos cursos de água e de enxurradas. Por esse motivo foi recomendado, preventivamente, aos moradores e turistas que evitem se banhar em praias em que a água do mar esteja barrenta, com presença de detritos e, principalmente, próxima aos cursos de água.
Retorno às condições normais
Quanto à volta da normalidade, a Cetesb informa que as marés podem colaborar para uma recuperação da condição de banho das praias. Os restos de vegetais e resíduos, carreados pelas enxurradas e depositados na faixa de areia, necessitam de uma ação antrópica, por parte dos agentes municipais, para a sua remoção e adequada disposição. As avaliações de qualidade ambiental, realizadas pelas redes de monitoramento de qualidade das águas superficiais da CETESB, deverão colaborar na definição desse diagnóstico.
O Comitê de Bacias Hidrográficas do litoral norte segue como padrão as orientações para a gestão das águas e as análises da Cetesb. “São por meio dos dados monitorados pela Cetesb que identificamos áreas prioritárias para o controle de poluição das águas que subsidiam a execução dos Planos de Bacia e Relatórios de Situação dos Recursos Hídricos entre outras ações que compete ao Comitê” explica Jociani Debeni, secretaria executiva do Comitê de Bacias.
Neste ano o Comitê lançou o Edital para financiamento de projetos onde irá destinar R$200 mil visando aumentar os pontos de monitoramento como ampliar a rede pluviométrica e fluviométrica na UGRHI 3, priorizando as bacias mais sujeitas a problemas de inundações, integrada a um sistema de informação e suporte à decisão voltado para a Sala de Situação.
“Como ação emergencial estamos nos reunindo com gestores públicos e outros grupos como Gerenciamento Costeiro, Área de Proteção Marinha e A Rede de Educação para Redução de Riscos de Desastres do Litoral Norte de São Paulo para agregarmos ações em conjunto na busca de planejamento a longo prazo” finaliza Jociani Debeni.
Para os alertas do Painel Brasileiro Sobre Mudanças Climáticas, se não houver nenhuma estratégia de adaptação, os impactos serão catastróficos, com dezenas de milhões de pessoas se tornando refugiados ambientais, com o risco real do deslocamento forçado de até 187 milhões de pessoas ao longo deste século – cerca de 2,4% da população mundial.